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Percursos pedestres, caminhadas, pedestrianismo, trekking, trilhos, aventuras, viagens, passeios e descobertas!

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La Ruta de Los Túneles - [Barca d'Alva - La Fregeneda]

22.06.10, darasola

Esta aventura andava há muito tempo na minha cabeça, desde que comecei a ouvir falar de tal percurso. A partida efectua-se desde a antiga estação de comboio de Barca d'Alva e segue pela linha fora ao longo de cerca de 17 km, até chegar à estação (igualmente) abandonada de La Fregeneda. São vinte o túneis a atravessar e treze as pontes/viadutos a transpor! As paisagens sobre o rio Águeda são fantásticas! "Águeda?" perguntarão vocês... Sim, Águeda! Não sabia, mas fiquei a saber que há dois rios Águeda em Portugal: um é o que passa na cidade portuguesa homónima, sendo um afluente do Vouga e este, que nasce em Espanha, passa por Ciudad Rodrigo e desagua em Barca d'Alva.

O percurso é um desafio às fobias: quem tiver medo do escuro, de morcegos ou de alturas, é melhor não arriscar e contentar-se com as fotos dos outros, mas para quem quiser um bom desafio, este é um trilho à altura.

O facto de caminharmos sobre uma linha, com carris, as travessas de madeiras e os socalcos em pedra acaba por tornar esta caminhada um pouco penosa. É fundamental levar uma calçado adequado, preferencialmente umas botas de sola rija, para evitar o incómodo de pisar o cascalho da linha. Outra coisa a não esquecer é a água! Com calor, este percurso pode ser bastante penoso, e não existe nenhum ponto onde reabastecer. O facto da linha, entretanto classificada com Património Nacional Espanhol, evolui ao longo de escarpas imponentes, pelo que os acesso a meio do percursos são... nulos! Convém ter cuidados redobrados e não contar muito com o apoio do telemóvel, pois nem sempre se consegue ter rede.

A travessia das ponte/viadutos foi, para mim, o prato forte desta aventura. Não sou muito dado a vertigens, mas passar pela fina linha metálica, com o abismo (+ de 50 metros em média) de um lado e outro, deixa qualquer um com os níveis de adrenalina ao máximo, e a batida do coração mais forte. O truque é ir pela parte metálica (NUNCA pela parte de madeira, pois está a ficar podre) e olhar em frente (Não para baixo), mantendo a mão no corrimão. Esse corrimão é no entanto traiçoeiro, pois está muito afastado de nós e obriga algumas pessoas com braços mais curtos a inclinarem-se para o vazio! Sensações fortes garantidas! Em caso de tempo chuvoso ou com muito vento, é muito perigoso realizar a travessia das pontes, pelo que não se recomenda o percurso. Uma das pontes é especialmente perigosa por ser em curva e termos de dar um "salto" (vá lá, uma passada larga) no vazio.

Mas existiram outro facto de destacar nesta aventura, por exemplo, o túnel dos morcegos. São tantos que se forma uma camada de esterco no chão, chamada "guano", que acaba por se transformar num tapete "fofo" para caminhar. Outro facto assinalável foi o encontro imediato com um estranho veículo, que entrou no túnel quando íamos quase a sair. Com uma luz frontal e fazendo um barulho de motor, qual não foi a nossa surpresa quando vimos uma luz ao fundo do túnel que vinha em nossa direcção. Não se tratava de um comboio, mas de um veículo artesanal (pelos vistos feito por um espanhol) que se dedica a realizar pequenas excursões pela linha. Não sei o que será mais arriscado: passar pelos túneis a pé ou naquele estranho veículo de seis rodas. Ainda nos cruzamos com outro grupo de caminheiros, bem no meio de um dos túneis, que faziam o percurso em sentido inverso. O efeito de ver uma série de lanternas apontadas na nossa direcção tem sempre um efeito estranho, um pouco angustiante. Depois de dois dedos de conversa, ficamos a saber que eram um grupo de portugueses que já estavam a realizar aquele trajecto pela 4ª vez.

Para quem ficou com água na boca por esta aventura, podem deliciar-se com algumas fotos.

 

A placa diz tudo.

O aspecto desolado do interior da estação.

Seguindo em direcção aos outros edifícios.

Garagens e plataforma rotativa para as locomotivas.

O caminho é este.

Chegada à primeira ponte

Esta é a que está em melhor estado.

Ao lado, passa a estrada com a sua ponte rodoviária.

Aspeto geral da ponte e dos primeiros elementos do grupo a atravessar.

A meio da ponte, surge a placa que marca a passagem para território espanhol.

O primeiro túnel [#20].

Até aqui nada de especial.

Afinal, isto fica mesmo escuro... Onde é mesmo o fim?

Exit

A vista sobre os olivais junto ao rio Águeda.

A primeira ponte "a sério". A passagem deve fazer-se pelo lado direito, pela viga metálica mais larga. Do lado esquerdo existe um caminho mais largo, mas por ser em cima de traves de madeira que estão visivelmente podre, o melhor é mesmo ir em cima do ferro.

Vista para o vale.

Mais um túnel.

Mais uma ponte. Existe um corrimão do lado por onde devemos passar, no entanto está a uma distância superior ao tamanho do braço, no entanto, acabámos por seguir com o braço estendido, tocando com a ponta dos dedos o ferro. A factor psicológico é fundamental nestas travessias.

Um wallpaper para o computador.

Em cima da trave de poucos centímetros de largura, com o chão, lá em baixo, a uma dezena de metros. Não há espaço para fraquejar...

Vista de outra ponte.

Um túnel relativamente pequeno.

Uma casa abandonada junto à linha. Talvez fosse uma estrutura de apoio à mesma.

Simetrias...

O vale é imponente e é possível observar a linha a continuar pela encosta dos montes.

O rio Águeda corria com pouca água.

Para quem tem vertigens, o percurso é desaconselhado.

Mais uma ponte em visível mau estado.

A vegetação começa a tapar alguns túneis. Nalguns sítios ao longo da linha, as silvas foram uma dificuldade: calças e bastões de marcha são recomendados para afastar os picos.

A luz ao fundo do túnel.

Mas... Que raio! Afinal havia mesmo uma luz ao fundo do túnel. Eis o tal meio de transporte para turistas inventado por um espanhol. Valeu um susto ao vermos que a luz era mesmo a de um comboio. :-)

Esta estranha torre surgiu assim do nada. Não se via nada à volta.

Parecia saída de um episódio da série "Lost".

Finalmente alcançámos a ponte que era o maior desafio. Se seguirmos pelo lado direito, a curvatura da linha obriga a um pequeno salto (da largura de uma passada) por cima do vazio. Eu passei, mas recomendei a quem não se sentisse à vontade para que fossem pelo lado esquerdo.

Este local é impressionante.

A meio do viaduto, olhando para trás e para o grupo.

Daqui era possível ver mais um viaduto na encosta da serra.

Uma construção impressionante. Imagino quantos terão sido necessários para construir tal obra, num local tão agreste como este.

Entrámos num túnel onde encontrámos uma grande colónia de morcego. Os seus dejectos criaram um tapete mole no caminho, e um cheiro nauseabundo. Felizmente, a meio do túnel existe uma abertura que permite sair e apreciar as vistas apanhando ar.

Abutre ou grifo?

Alcançámos então a zona que se via um pouco antes.

O mesmo local numa outra perspectiva...

... e mais acima ainda. O local é fantástico!

Imponente lá do seu alto, observava-nos, quem sabe, talvez à espera de uma refeição...

A nossa "linha de vida"

Nesta parede era possível ver os vestígios de um ninho.

Passando a ponte.

O caminho continua...

Encontrámos uma estranha construção, semelhante aos antigos fornos de cal, mas pela abertura, pensámos que deveria ser um abrigo para pastores.

O mais pequeno viaduto do percurso, mesmo antes do maior túnel do percurso.

Com cerca de 1 km, a luz à fundo do túnel deu-nos uma falsa sensação em relação ao seu tamanho.

- A saída é já ali! Chega-se lá num instante, é como os outros.

A verdade é que caminhámos, caminhámos, caminhámos... da entrada apenas restava um pontinho de luz e o fim ainda não tinha surgido. No seu interior a humidade e o frio era um contraste em relação ao calor tórrido que se fazia sentir no exterior. Realmente é uma obra impressionante, que pena não ser aproveitada para outros fins, estando entregue a si própria.

Quase, quase lá...

Finalmente! La Fregeneda, a primeira estação do lado espanhol.

Está está também em estado de degradação, mas nunca me soube tão bem chegar ao meu destino.

Confesso que esta foi sem dúvida a melhor caminhada que fiz até hoje e, apesar das dificuldades e do perigo, recomendo-a a quem tiver coragem para este verdadeiro desafio.

Editado - Para quem quiser saber um pouco mais, podem visualizar este vídeo.

Boas caminhadas

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10.06.10, darasola

A partir de agora, podem encontrar o Darasola no Facebook. A criação desta conta tem como objectivo partilhar informações relacionadas com a temática do pedestrianismo e das caminhadas e, espero eu, obter algum feed-back sobre o blog e o fórum.

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Boas caminhadas

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Arões - Tempo de Antanhos

07.06.10, darasola

 

No passado dia 29 de Maio, participei num evento especial. Organizada pelo Grupo Folclórico Terras de Arões, a actividade do tempo de Antanhos era uma descoberta para mim, nem sabia muito bem ao que ia. O cartaz falava da recriação de "cenas e retratos" rurais de antigamente, mas isso pouco dizia. No entanto, sabia que os eventos dos grupo de Arões eram muito animados, pois já tinha participado na subida do rio Teixeira e tinha adorado.
O encontro estava marcado na aldeia de Salgueira, pelo que tive de subir a serra da Freita para descer pela vertente Sul e à hora marcada lá estava no ponto marcado. Pouco a pouco o grupo foi-se compondo e apenas tivemos de aguardar pela malta do grupo Seita de Oliveira do Hospital.
Depois de levar os veículos até à aldeia de Chão do Carvalho por sugestão da organização, visto que o percurso iniciava lá, demos início à caminhada que foi percorrendo o centro das aldeias de Salgueira, Ervedoso, souto Mau, Arões e de volta Chão de Carvalho. O trajecto alternava entre estrada e estradões e caminhos florestais, com a malta do grupo Seita a destacar-se pela boa disposição e pela amena cavaqueira.
Chegados à aldeia de Ervedoso, a barriga já ia dando horas e fomos presenteados com petisco locais e à moda antiga: broa de milho com mel, azeitonas e um vinho local. Que bem que soube essa pequena merenda. Ali mesmo tivemos direito à primeira reconstituição: a estercada. O que é? Simplesmente o acto de tirar o estrume para gigas que eram normalmente carregadas pelas mulheres até aos campos que haviam de ser lavrados. A tarefa de arrancar o estrume cabia aos homens. Os figurantes, membros do rancho, estavam trajados a rigor, o que conferia à cena um carácter fidedigno. Em grupo, fomos seguindo as mulheres carregadas com o estrume à cabeça. O dia estava quente e certamente não terá sido uma tarefa das mais agradáveis, mas no regresso ainda tinham fôlego e alegria suficiente para cantar uma série de músicas tradicionais.
Seguimos então caminho, pouco depois alguns elementos do grupo não deixaram de se "meter" com uma senhora à beira da casa de quem passámos. "- Aí que calor! Aí que sede!" A resposta foi pronta e generosamente convidou toda a gente para a adega para provar o vinho. É também disto que se pode encontrar nas caminhadas: pessoas afáveis, generosas e sinceras que prontamente trocam um dedo de conversa, procurando saber de onde somos e o que achamos das suas terras. Despedimo-nos agradecendo a sua generosidade e seguimos caminho.
Voltaríamos a parar na aldeia de Souto Mau, no edifício da sede do Rancho Folclórico de Arões: uma casa antiga e ampla que foi entretanto cedida e recuperada pela associação. É um edifício interessante, não tanto pelo exterior, mas sim pelo interior onde encontrámos um espaço enorme debaixo do alpendre e junto ao antigo lagar com uma prensa tradicional. Novamente uma "bucha": presunto, chouriços, vinho, sumos, broa, etc. Ainda houve oportunidade para uma experiência inédita: provar cebola com mel, por sugestão da professora. Acho que poderia citar o que disse Fernando Pessoa acerca da Coca-Cola, "primeiro estranha-se e depois entranha-se", no entanto, acho que não chegará a entranhar-se. Os sabores da cebola e do mel anulam-se e cria uma mistura de sabores nova. Mas acho que haverá gente que nunca voltará a repetir a experiência... Depois de bem encher a barriga, a vontade de caminhar fazia-se pouca, mas tínhamos de recomeçar, ainda por cima a subir até à próxima aldeia.
Nesse local, tivemos oportunidade de observar um ferreiro na sua oficina a temperar o ferro para realizar uma machado. Um senhor idoso, enfiado na escuridão da sua oficina manifestava uma evidente alegria por poder mostrar a sua arte: "- Olhem agora, preparem-se! Agora é que interessa!" - dizia ele, para que nos preparássemos para registar para a eternidade o seu trabalho. Curioso foi o utensílio usado para moldar a lâmina do machado: um corno de carneiro... Lá nos despedimos do senhor, com as pernas pesadas e a pedirem para um esforço contínuo e não, sucessivas paragens.
Na mesma aldeia, a poucos metros do ferreiro, voltaríamos a ser presenteado com nova oferta de broa e azeitonas, de uma senhora que nos propôs a visita a sua oficina de trabalho com dois teares tradicionais, onde preparava o linho. O cuidado na preparação era evidente, visto que a senhora tinha expostas as várias etapas do linho: desde a semente até ao produto final, passando pela balde com alguns pés bem verdinhos dessa planta. Uma visita muito pedagógica sem dúvida.
Na aldeia de Arões, visitámos a loja das artesãs de Arões, um pequeno grupo de mulheres, que produz roupas segundo os métodos tradicionais, onde estavam expostos vários tipos de roupas.
A partir daí, iniciámos o percurso que nos levaria de volta à aldeia de ??? onde tinham ficado os carros.
Mas as actividades não tinham terminado, antes pelo contrário. À nossa espera estavam os elementos do rancho, junto a uma eira e a um canastro (espigueiro), para recolher a erva seca e mostrar como se fazem "cachopas" (fardos de palha atados com uma fiteira). Depois, pudemos assistir e até participar na tosquia de duas ovelhas. Aí, comprovámos que "a viola quer-se na mão do tocador", pois a simpática dona das ovelhas mostrava-nos como era possível realizar essa complicada tarefa com segurança e rapidez.
Depois do "trabalho": a festa. Começaram as danças e o bailarico, misturados com cânticos tradicionais. Era vê-las a rodopiar com os seus vestidos tradicionais e a saltitar no palco improvisado da eira simplesmente com socas calçadas. Era ver os sorrisos dos elementos do rancho, dos que participavam e dos que observavam (grupo onde me incluía).
A seguir ao bailarico foram servidos uns rojões feitos ali mesmo, junto à eira, à fogueira numa panela antiga de ferro e quaisquer linhas que pudesse escrever não poderia nunca transcrever o cheiro agradável que deles emanava e o sabor então... nem se fala. Comidos assim mesmo, só com broa. Uma verdadeira iguaria! Para culminar, ainda havia um caldo, daqueles à moda antiga com couves, cenoura, batata, feijão, arros e carne... um caldo de sustento. Nunca pensei estar a comer um caldo daqueles às 17h da tarde, mas a verdade é que me soube pela vida. De barrigas cheias ainda se tentou uma moda de cantares ao desafio, mas a nossa falta de inspiração não estava à altura do mestre de cerimónias e ninguém o ousou desafiar. Os mais resistentes ainda foram continuando, comendo e conversando, mas acabei por dar por terminado este dia muito bem passado.
Gostei imenso desta iniciativa que nos mostra o que pode enriquecer uma actividade pedestre. Com efeito, se o percurso pedestre podia ser considerado sem grande interesse, pois, a não ser o antigo caminho dos funerais, os outros eram apenas caminhos florestais, a verdade é que ao juntar-lhe todos estes aspectos culturais, o mesmo acabou por sair extremamente enriquecido e valorizado. Acabou por ser uma dia divertimento, de convívio, de aprendizagens e descobertas sempre com o aspecto do físico e da saúde por fundo.
Espero poder participar em outras actividades organizadas por gentes de Arões.
Boas caminhadas
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